Seguidamente transcrevo, com a devida vénia, o respectivo conteúdo.
A dar
cartas em Hollywood
por Rui Pedro Tendinha
Fotografia de Brad Fulton
No ano passado,
Hélder Guimarães venceu em Los Angeles o título de «Mágico de Salão do Ano».
Agora está novamente nomeado. Em menos de um ano, o jovem portuense conquistou
a América, mas por cá poucos sabem. O seu espetáculo, Nothing to Hide, em que
mistura comédia e magia, esgota constantemente a Geffen Playhouse, em
Hollywood, e pode ser visto até ao próximo sábado. O público rende-se. E as
celebridades de Hollywood também.
Há coincidências
difíceis de explicar. Ou se calhar é magia. No dia em que a Notícias
Magazine está em Los Angeles para ver o espetáculo Nothing to Hide ,
no prestigiado Geffen Playhouse, um ilustre membro da realeza do cinema
americano está esfuziante com o que acabou de ver e quer cumprimentar os
artistas. Steve Martin, comediante, músico e dramaturgo, tem um fraquinho por
ilusionismo. Também na fila para o beija-mão estão Benedita Pereira e Leonor
Seixas, atrizes portuguesas a residir em Los Angeles. Tudo por causa de Hélder
Guimarães, o ilusionista português que partilha o palco com Derek Delgaudio.
O espetáculo, que
alia truques de cartas e interatividade hilariante com o público, nasceu de um
número de magia no Magic Castle, o templo da magia em Hollywood, uma espécie de
loucura mediática em Los Angeles. A brilhante encenação de Neil Patrick Harris
- o mítico ator da série O Menino Doutor , que entretanto cresceu e
agora encanta várias gerações em Foi Assim Que Aconteceu ( How I Met
Your Mother ) - também ajuda. Casas esgotadas, crítica de imprensa
tremendamente positiva («Derek e Hélder conseguem elevar a magia a um patamar
de arte», lia-se na LA Weekly ) e celebridades loucas com os truques de
Guimarães, desde Ryan Gosling a Eva Mendes, passando por Maria Sharapova ou
mesmo Barbra Streisand. Todos querem ver ao vivo aquela hora e meia de magia
encenada com muito humor, onde Hélder faz de Hélder, ou seja, uma persona
de si próprio que brinca com orgulho com as origens portuguesas.
Com um cenário
discreto, a peça, a performance ou o show , o que quer que seja,
vive de um diálogo entre os dois mágicos que passam grande parte do tempo a
apresentar os maiores truques de cartas alguma vez vistos ao vivo e a
meterem-se com o público. «Mais importante do que enganar o público, para mim,
tudo passa por transmitir emoções e trocar ideias. Sendo completamente honesto,
o meu interesse em enganar as pessoas que estão na sala está na mensagem que
estou a transmitir. Uma mensagem que tem de ser mais forte do que o engano. O
próprio espetáculo fala disso. Não há nada a esconder, conforme o título...»
Por isso não se aborrece quando alguém lhe diz, no final, que percebeu como o
truque foi feito. «O único problema é se perdem o objetivo do espetáculo.»
Apesar de ter
apenas 30 anos, este emigrante de sucesso já se sente veterano. Desde os 4 anos
que explora o mundo da ilusão, ao lado do pai, engenheiro eletrotécnico que
fazia magia como hobby . Corre a lenda, entre a comunidade americana de
mágicos, que algumas habilidades de Hélder com um baralho são únicas. «Tem tudo
que ver com prática. Desde os 12 anos que estou sempre com um baralho de
cartas. Ao estudar, quando era miúdo, estava sempre com as cartas na mão.» E
põe a mão no bolso para tirar um baralho. Com 23 anos, venceu o prémio World
Champion Card Magic (as olimpíadas da magia) e agora está no trono da magia
internacional. E no ano passado a Academia de Artes Mágicas de Hollywood
considerou-o o «Mágico de Salão do Ano», título que pode renovar já em abril.
«Está tudo a acontecer porque acreditam no meu trabalho», diz no final do
espetáculo, com um sotaque tripeiro que faz questão de não disfarçar. «Claro
que ser tudo em menos de um ano é surreal! Estava no momento certo com o
trabalho certo. Trabalhei muitos anos para isto... Neste momento, com tanta
visibilidade, começamos a ter contacto com outras áreas. Estamos a ver como
vamos lidar com isso.»
Inevitavelmente, o facto
de estar em Hollywood leva-o a pensar em voos mais altos, como o cinema ou um
formato televisivo. Para já, juntamente com a namorada portuguesa, quer apenas
continuar a desfrutar do sol de Los Angeles e continuar a beber um copo de
vinho no camarim com Steve Martin. Isto apesar de o espetáculo - cuja temporada
termina no próximo sábado - seguir depois para a Broadway, em Nova Iorque.
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